quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Vida longa à nova carne.

O Goteira é um ritual de sádicos. Um lugar onde as pessoas - não muitas - sentam e engolem à força os excrementos do cinema. Na tela e na sala grotesta se expõe um medo em comum. Algo que transitou desde a nossa casa até as salas de cinema que frequentamos. Mas no Goteira, nossa fraqueza dá lugar ao sadismo curioso. Um horror que obriga as delicadas menininhas a abrirem frestas entre as mãos para ver fotogramas de sanguinolência ou obscenidade. Sentimos queimar os mamilos e ainda assim repetimos os bordões. O Goteira é um sequestrador e nós somos suecas peitudas mergulhadas numa síndrome de Stockholmo hostérica.
Acredito que das dezoito às vinte e duas horas do segundo sábado (nem sempre) de cada mês carrega um mistério nas nuances. Momentos que precedem, percorrem e encerram as sessões, são carregados de uma "mágica" bizarra. No caminho de ida e volta da Sala Zelito Viana, nos deparamos com situações estranhas e simbólicas. Situações essas que parecem ser retratadas nas sessões. O ritual maldito parece dar vida aos personagem da tela. Quem não viu se materializar a Babá em "Os Monstros de Babaloo"?
No escuro, as preces rezam os filmes e as risadas são o reflexo do óbvio contido em exterminar preciosas horas da sua noite de sábado numa mediocridade coletiva.
O mestre de cerimônia deveria vestir uma capa negra, mas se camufla no público coberto com uma camisa do América, um vermelho-sangue assustador, te convidando a berrar: "Vida longa à nova carne!". Carne essa que nos cobre e contamina, desde a desértica entrada até quando um certo alguém acende as luzes erradas fazendo todos levarem aos olhos as mãos.
Mas todos voltam. Pois o Goteira é um ritual de sádicos.
Guilherme Cabral